- Será que a Clara gosta mesmo do Erick, ou eu to ficando doida? Bem, seja lá o que for, eu acho que o Erick gosta de mim, então eu preciso me preocupar só com isso.
Dois anos se passaram. Malu, Clara e Erick já tinham quatorze anos, quase quinze. Clara continuava morrendo de ciúmes dos amigos, sempre se oferecendo para ir com eles em todo lugar. Quem via os três juntos até dizia que eram amigos inseparáveis, mas no fundo Clara queria ter algo com Erick. E Malu sempre tomava o maior cuidado para não deixar a amiga se aproximar demais do menino.
Certo dia, depois da aula, Clara ligou para Erick:
- Oi Erick, tudo bem? Eu posso passar aí na sua casa?
- Pode sim, mas pra quê?
- Eu to me sentindo sozinha. Tentei falar com a Malu,
mas ela não me atende, então pensei em conversar com você.
- Ela não te atendeu? Que estranho, hoje ela estava
normal na escola... lembra?
- Sim, mas ela deve estar ocupada agora.
Clara foi à casa de Erick e se ofereceu para fazer um
lanchinho para os dois. Erick disse que não precisava, já que a empregada
estava em casa, mas ela insistiu. Enquanto lanchavam, Clara pegou o celular e
começou a fotografar os dois.
- O que você está fazendo?
- Vamos tirar umas “selfies”? Assim eu me sinto
melhor.
- Tá, mas até agora você não me disse por que estava
triste.
- Eu não disse que estava triste, mas me sentindo
sozinha. Meu avô só fica enfiado nos papéis o dia todo, cuidando de negócios.
- Certo. E a Malu, vamos na casa dela?
- Mas... e se ela estiver ocupada?
- Eu te garanto que para mim ela sempre arruma um
tempinho, quer apostar?
- Não, não precisa. Vamos lá então, todo poderoso!
Erick e Clara tocaram o interfone. A mãe de Malu
atendeu e quando soube que era o Erick, foi logo abrindo a porta. Ela ficou
surpresa ao vê-lo em companhia de Clara, e disse:
- Ah, oi, pensei que estivesse sozinho. Entrem!
Clara mostrou um “sorriso amarelo” e entrou. Malu
desceu as escadas correndo e abraçou os amigos.
- Que surpresa! O que fazem aqui?
- A Clara disse que... – começou Erick.
- Eu fui visitar o Erick e tivemos a ideia de passar
aqui. – interrompeu Clara.
Malu achou estranho sua amiga ter ido visitar Erick
primeiro. E agora ela ficara com medo dessas visitas se tornarem frequentes.
Mas, como era uma menina educada, ela simplesmente sorriu e respondeu:
- Ah, que bom! Vamos para o meu quarto.
Clara puxou Erick, que não gostou e empurrou a mão
dela. Malu pegou na mão de Erick e eles se olharam, sorrindo.
Essa relação amigável dos três já estava ficando
esquisita. Malu sabia que sua amiga gostava de Erick, mas ela não queria dizer
nada, porque sabia que Erick gostava mais dela do que de Clara. Erick nunca
havia demonstrado interesse algum por Clara, o que deixava Malu mais tranquila.
Faltavam poucos dias para o aniversário de Malu. Seus
pais estavam preparando uma linda festa, como ela nunca tivera antes de se
mudarem para aquela casa. E pensaram que uma festa de quinze anos para uma
menina deveria ser muito especial.
Malu planejara dançar valsa com Erick, mas Clara
ainda não sabia. Ela só soube na hora, pois Malu fez questão de fazer surpresa.
O pai de Malu, como sempre, ficou de cara amarrada a festa inteira, vendo sua
filha de papo com Erick. Clara reclamou:
- Eu devia saber! Só podia ser o Erick, o grande par
da Malu. A minha festa está chegando, e eu também quero dançar com ele.
Logo após a valsa, Erick chamou Malu num canto:
- Malu, eu já disse que você está maravilhosa hoje?
Malu sorriu envergonhada. Ele continuou:
- Quer fugir comigo para debaixo da árvore?
- Ah, mas vamos deixar os convidados aqui?
- Eles nem vão perceber, tá todo mundo se divertindo.
Erick puxou Malu pelas mãos. Clara os seguiu e viu
tudo.
Embaixo da árvore, Erick disse:
- Tenho medo de dizer isso por causa da nossa
amizade, que é muito importante para mim, e não quero que acabe por nenhum
motivo, mas... você quer ser minha namorada? Mesmo que seja escondido.
Malu sorriu e respondeu “sim”. Uma música romântica
começou a tocar tão alto na festa, que dava para ouvir do lado de fora. E eles
finalmente, e lentamente, se beijaram. Foi o primeiro beijo dos dois. Malu não
ouviu mais música nenhuma. Ela mal sentia seus pés e parecia estar flutuando. O
mesmo aconteceu com Erick. Eles estavam muito apaixonados.
Clara não sabia se sentia raiva ou tristeza. Ela foi
para o jardim e se escondeu perto da piscina. Ela tentou segurar, mas acabou
chorando. A mãe de Malu viu a menina sozinha e foi falar com ela:
- O que aconteceu, florzinha?
- Não foi nada.
- Não quer me contar? Eu já tive a sua idade.
- Foi a sua filha que me fez chorar. Ela está aos
beijos com o Erick lá fora, embaixo da árvore.
- Entendi, eu já sofri por meninos na sua idade, sei
como é. Depois eu converso com a Malu.
A mãe de Malu foi conferir. Ao sair de casa, viu
Erick e Malu abraçados, saindo do lote. Ela ficou aliviada de não ver os dois
aos beijos, como Clara havia dito e decidiu que falaria com a filha após a
festa.
- Meu Deus, quanto escândalo a Clara fez! Eles estão
tão bonitinhos juntos!
A festa terminou às três da manhã. Malu dormiu como
um anjo e sonhou com Erick. Assim que amanheceu, a mãe de Malu foi até o quarto
da menina levar seu café-da-manhã:
- Filha! Acorda!
- Ah nem, mãe! Deixa eu dormir mais um pouquinho...
- Tudo bem, desde que você me conte o que aconteceu
ontem na festa entre você e Erick.
Malu deu um pulo da cama e até perdeu o sono.
- Eu e o Erick? Você viu? – perguntou ela, sem graça.
- Filha, eu não vi nada, por isso estou perguntando.
- Tá, mas então como soube que aconteceu algo?
- Sua amiga Clara me contou, mas eu gostaria de ouvir
isso de você.
- Aquela fofoqueira! Que mania de bisbilhotar tudo o
tempo todo! – respondeu Malu, irritada.
0 comments:
Postar um comentário