- Não me trata assim! Eu tenho sentimentos... e você
faz questão de pisar neles!
Clara saiu correndo chorando; entrou no
carro e se foi.
Na semana seguinte, mais uma vez, Erick e Clara mal
se olharam na escola. Malu achou aquilo estranho e perguntou o que havia
acontecido, mas Erick inventou que estava muito focado nos estudos e no estágio
e não podia ficar de papo com ninguém. Malu entendeu e o abraçou. Depois foi
fazer companhia à Clara, que fingiu estar bem. Leandro estava lanchando e ficou
observando as meninas, de longe.
Malu disse à Clara:
- Oi, está tudo bem?
- Está sim, por quê?
- Eu pensei em te chamar pra passar a tarde lá em
casa, já que a minha mãe tá viajando e o Erick vai para o estágio.
Clara pensou e aceitou o convite, pois queria estar
mais perto de Malu para tentar descobrir mais alguma coisa interessante sobre o
Erick, além de suas comidas e música favoritas.
- O Erick hoje está meio na dele, não quer conversar
– continuou Malu.
- É, eu percebi. Coitadinho, deve ter mil coisas na
cabeça; não deve estar sendo fácil o estágio, a escola e o curso de desenho, e
ainda cuidar dos avós dele. Ainda bem que meus empregados cuidam do meu avô.
O sinal tocou e todos foram para a sala. Malu nem
pôde responder Clara, que saiu correndo para a sala de aula.
Depois da escola, Erick passou na casa de Malu só
para lhe dar um beijo, antes de ir para o estágio. Ela ficou muito feliz com a
surpresa e o abraçou, dizendo que o amava.
- Eu te amo muito mais, Malu! Tenho que ir agora –
respondeu ele.
Mais tarde, Clara visitou Malu, que a levou para o
seu quarto:
- Vou te mostrar os desenhos que o Erick me deu.
Malu ligou o som, para não ficar um silêncio chato e
mostrou os desenhos à Clara. Clara mal prestou atenção, e já começara a
provocar:
- Malu, você já percebeu que o Lê não tira os olhos
de você?
- O Lê? Como assim? Não, você deve ter visto errado.
- Tá querendo dizer que eu não enxergo bem?
- Não, Clara, talvez o Leandro tenha olhado para
outro lado e você achou que ele estava olhando pra mim...
- Ah, mas eu não vi só uma vez. Ele sempre te olha
diferente, parece que gosta de você.
- Pode parar Clara, não inventa!
- E você, não sente nada por ele?
Malu não era boba e percebeu que Clara queria que ela
ficasse com Leandro só para ela ficar com Erick, e respondeu, séria:
- Eu e o Leandro somos apenas amigos! Só isso e nada
mais! E mesmo que o Lê quisesse alguma coisa comigo, eu amo o Erick.
Clara continuou provocando:
- E você acha que vai ficar com o Erick até quando?
Você acha que vai se casar com ele? E se ele deixar de te amar, hein?
- É claro que nós não sabemos o futuro, mas se não
tiver nada e nem ninguém para nos atrapalhar podemos nos casar, sim!
Clara fez uma cara de quem não gostou daquilo, mas
para evitar confusões de novo com o grupo, resolveu ficar quieta.
Mais tarde, Clara se despediu de Malu e, em vez de ir
embora, passou na casa de Erick. Ela levava um livro na bolsa e disse ao avô do
menino que havia levado para ele estudar.
- Entendi, entre. Com licença, eu preciso ir para o
quarto, a minha esposa não está muito bem. Boa noite!
- Tudo bem, boa noite e melhoras para ela – respondeu
Clara.
Erick chegou em casa muito tarde. Clara estava
cochilando no sofá. Ele entrou sem acordá-la e foi até o quarto dos avós, que
sempre o esperavam voltar do estágio, mas naquela noite não estavam na sala.
- E então, vô,
é melhor levarmos a vovó para o hospital – disse Erick, vendo que sua avó não
estava nada bem.
E assim o fizeram. Clara acordou, enquanto a
ambulância buscava a avó de Erick. Ela levou um susto quando Erick a chamou,
pedindo que fosse embora.
Erick e seu avô passaram a noite no hospital. Sua avó
tinha piorado, a pressão havia subido e ela sentia dores no peito. Teria que
ficar internada. Erick ligou para seu pai, pedindo que ele ficasse no hospital
durante aqueles dias, já que ele tinha estágio, escola e curso e não poderia
ficar com a avó. O avô dele dormiria ali aquela noite, mas no dia seguinte
teria que voltar pra casa para descansar.
Na escola, Erick contou aos amigos e à namorada o
ocorrido. Malu consolou-o a manhã inteira.
À tarde seu pai chegara de viagem e fora direto para
o hospital.
Erick estava muito triste pela avó, mas precisou
tocar sua vida para frente. Foi ao curso de desenho, mesmo sem vontade e, na
volta, passou na igreja onde sua avó costumava assistir às missas e pediu ao
padre que dedicasse uma missa a ela. À noite, Erick e Malu foram à missa.
Ele acabou chorando, encostado no ombro de Malu:
- Minha avó tem que melhorar... ela não merece sofrer
assim.
- É claro que não merece, meu amor. Mas ela é forte,
tenho certeza que vai melhorar logo e voltar pra casa.
Mas infelizmente não foi o que aconteceu. A avó de
Erick havia falecido na manhã seguinte. Ele fora chamado na escola, no meio da
aula de Educação Física; sua mãe, porém não pôde comparecer ao velório, pois
ficara no interior cuidando dos negócios do marido.
Durante o velório, Erick não conseguia parar de
chorar. Malu estava do seu lado, abraçando-o, quando Leandro e Clara chegaram.
Leandro viu que seu amigo estava mal e buscou um copo com água. Sua avó
realmente faria muita falta.
À noite, o pai de Erick voltara para o interior. Pelo
resto da noite, Erick chorou muito, e ainda consolava seu avô. E aquela foi
mais uma noite mal dormida. Erick dormiu tão mal que nem foi à aula no dia
seguinte; estava de luto.
Malu passou na lanchonete depois da aula e comprou
uma torta para tentar animar Erick. Mas ele não conseguiu comer direito.
Leandro e Clara foram à casa dele junto com Malu, mas nada fazia o menino parar
de chorar.
Mais tarde, o pai de Erick telefonara dizendo que
levaria seu avô para morar no interior. Erick ficou furioso:
- E você acha que aí no interior ele vai ter uma vida
digna? E se ele precisar de um atendimento urgente? Eu não aceito que leve meu
avô daqui! Ah, então pergunta se ele quer ir!
O avô de Erick atendeu o telefone e, depois de quase
uma hora de conversa, decidiu que se mudaria para o interior.
Erick não gostou nada da ideia. Malu falou com ele:
- Ah, meu amor, se seu avô decidiu isso, então deixa
ele.
- Eu não acho que ele queira ir, só está indo pra
agradar meu pai, que acha que manda em todo mundo. Meu pai só me dá motivos
para eu detestá-lo!
- E o que você vai fazer, morando nesse casarão
sozinho?
- Não sei... todo mundo me abandona. Pelo menos eu
tenho os empregados.
- Não é a mesma coisa, eles não são a sua família.
Leandro sugeriu:
- Você pode vender esta casa e comprar uma menor, ou
um apartamento perto do seu trabalho.
Malu não gostou, afinal Erick ficaria bem longe dela
e eles mal iam se ver.
- Mas amor, e eu? Como vamos nos encontrar sempre?
- Calma, uma casa desse tamanho e preço não vende de
um dia para o outro. Vai demorar muito e...
- Sim, demora, mas vende. E do mesmo jeito vamos
morar longe um do outro. Seja amanhã, daqui a um mês, um ano, mas isso vai
acontecer.
Clara e Leandro até que gostaram da ideia de Erick e
Malu morarem longe um do outro. Não que eles estariam se unindo contra o namoro
dos dois, mas seria uma chance a mais de Clara se aproximar de Erick, e Leandro
de Malu. O destino acabaria fazendo o resto para eles ficarem juntos.
Aquele sábado fora bem agitado. O avô de Erick fora
embora para o interior e Erick já havia procurado um corretor para vender seu
casarão.
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