- Sim, você não se lembra de nada mesmo, nem do seu
nome?
- O médico me chamou de Erick, deve ser isso mesmo.
- É isso sim! Eu sou a Clara, sua namorada.
Clara deu-lhe um beijo na boca. Erick riu, meio sem
graça e ainda muito confuso, respondeu:
- Ah tá...
- Olha, amorzinho, você não precisa se preocupar que
eu vou te ajudar a lembrar de tudo!
Ela virou o rosto e pensou:
- Ele vai se lembrar de tudo sim, menos da Malu, se
depender de mim. Aliás, cadê ela? Nem sei em que quarto está...
Erick continuou:
- Você sabe o que aconteceu pra eu perder a memória?
- Bem, eu soube que você sofreu um acidente de carro,
mas eu não sei detalhes. Eu já volto, vou beber uma água.
Ela saiu do quarto e, no corredor chamou uma médica
que estava por perto.
- Ah, doutora, você sabe se tem alguma Malu internada
aqui?
- Você é parente dela?
- Eu sou a melhor amiga. Parece que ela sofreu um
acidente.
- Ah, tá, por aqui, siga-me!
A médica levou Clara até o quarto de Malu. Ao vê-la
naquele estado, Clara não perdeu a oportunidade de provocar a menina, que
infelizmente não podia fazer nada. Clara não era má, mas não conseguiu ficar
quieta.
- Ah, Malu... não acredito que você está em coma. Mas não se
preocupe, eu vou cuidar direitinho do Erick, porque agora ele é meu! – ela
disse bem baixinho no ouvido de Malu.
Depois que saiu do quarto de Malu, Clara olhou pelo
vidro da porta de Erick e viu que ele estava dormindo. Ela foi embora. Mais
tarde, Leandro voltou ao hospital, como havia prometido, para ver como estavam
as coisas. Ele ficou surpreso quando soube que Erick havia acordado.
- Oi cara, que bom que você tá bem! Eu disse pra você
não pegar no volante, você estava bêbado...
- Hã? Mas quem é você?
- Ah não, não acredito que você perdeu a memória,
cara! Você só pode estar de brincadeira. Você não se lembra de mim, nem da sua
namorada?
- Minha namorada é a Clara, ela veio aqui me ver. Mas
e você? É meu irmão, amigo, primo...
Leandro não se conformou em ver Erick daquele jeito.
E Clara, como sempre, se intrometendo em sua vida.
- Não, peraí! O que é isso? Clara veio aqui? Como ela
soube do acidente?
- Eu não sei... Mas por que você ficou assim?
- Ela não é sua namorada, é uma aproveitadora! Sua
namorada é a Malu, ela está internada aqui, em coma. E eu sou seu melhor amigo,
cara, pode confiar em mim! Estávamos juntos na balada, antes de... tudo
acontecer.
Erick ficou perdido com aquelas informações:
- Mas e a Clara?
Leandro suspirou e respondeu:
- Eu vou te falar uma única vez, ela não presta.
Ele lembrou-se da viagem e contou ao amigo:
- Olha, eu não vou poder cuidar de você por dois
meses. Tenho que viajar a trabalho. Eu já tinha comentado com você sobre isso,
mas já que você perdeu a memória... Eu só peço para você tomar cuidado com a
Clara. Você tem meu telefone salvo no seu celular, se precisar de algo me liga.
Só não vou poder voltar antes do tempo previsto, porque esta viagem é muito
importante para a minha carreira.
No dia seguinte, Clara voltou ao hospital para ver
Erick.
- Oi amor, você tá melhor? – ela disse sorrindo e
mostrando-lhe uma foto – Olha só o que eu trouxe! Uma foto de nós dois para
você se lembrar de como a gente era feliz. Essa é a minha foto preferida!
Clara também havia levado a torta de chocolate:
- Eu também trouxe a sua torta favorita. A gente
sempre comia quando ia ao cinema.
Erick se sentia muito melhor depois de ver aquela
foto e a torta em cima da mesinha. Clara cortou a torta e lhe ofereceu uma fatia.
Ele simplesmente amou, como sempre.
- Hummm! Mas que delícia!
- Boa demais, né!
- Sim, é! Bem, mudando de assunto um pouco, você pode
me dizer quem é Malu?
Clara ficou desconsertada com a pergunta.
- Malu?! Como assim, Malu?
- É, Malu. Você conhece alguém com esse nome?
Clara irritou-se:
- Como soube dela?
- Uma pessoa me contou, e disse também que você é
perigosa, não exatamente com essas palavras...
- Quem disse isso, amor? Quem veio aqui te ver?
- Foi meu amigo Leandro, por quê?
- Ah, e você se lembrou dele? Tinha que ser...
- Olha, Clara, eu ainda to muito confuso. Agora eu
não sei mais em quem confiar.
Clara tentou acalmá-lo.
- Não precisa ficar nervoso. Aliás, o médico vai te
dar alta amanhã mesmo!
- Ótimo! Eu preciso sair daqui o quanto antes. Você
não imagina como é difícil não se lembrar de nada; bate um desespero, um vazio
insuportável!
- Eu imagino, mas olha amor, amanhã eu vou te levar
pro seu apartamento e... você vai se lembrar rapidinho de tudo, eu prometo, tá
bom?
- Tudo bem – respondeu ele, e insistiu – Mas você
mudou de assunto. O que sabe sobre a Malu?
- Ah, bem, a Malu é uma garota chata, queremos
distância. Na verdade, ela é uma invejosa, vive querendo roubar você de mim. Só
sabe nos prejudicar, você tem que ficar longe dela, entendeu amor? Mas não
vamos falar disso. Você precisa ter apenas pensamentos bons para lembrar de
tudo.
- Eu trabalho com o quê?
- Ah, você é desenhista, mas tá de licença até se
recuperar. E também não precisa se preocupar com isso agora.
- Mas talvez o trabalho possa me ajudar a lembrar de
tudo!
- Sim, amor, mas vamos com calma. Você sofreu um
acidente terrível, é como se tivesse nascido de novo. Antes de tudo você
precisa estar bem fisicamente.
Erick sentia algo muito estranho, provavelmente
efeito de algum medicamento que havia tomado, pois tinha alguns ferimentos na
cabeça. Clara disse que precisava descansar e despediu-se dele.
No dia seguinte, no corredor do hospital, a médica
chamou Clara:
- Ei, moça! Você disse que é amiga da Malu, poderia
me passar algumas informações? Você sabe da família dela?
- Ah, doutora, perdão, mas eu não sei onde os pais
dela estão. Eu... já tentei falar por telefone, mas ninguém atende. Vocês
olharam nos documentos dela?
- Sim, pegamos os contatos do celular, mas ainda não
encontramos ninguém que possa vir até aqui. Encontramos também esta foto.
Era uma fotografia de Erick e Malu.
- Esse aqui não é o rapaz que perdeu a memória? –
perguntou a médica.
- Ah, é ele sim – respondeu Clara, pegando a foto da
mão da médica, e continuou – Nós três somos muito amigos. Deixa-me mostrar esta
foto pro Erick. Ah, e procura um tal de Leandro no celular da Malu, ele é a
pessoa mais próxima que pode ajudar. Agora eu tenho que ir.
Clara rasgou a foto e jogou na lixeira mais próxima,
dizendo:
- Ele nunca mais vai ver esta foto!
Depois ela foi até o quarto de Erick, toda feliz.
- Amor, hoje você vai voltar pra casa! Você pode me
emprestar a chave para eu dar uma limpeza lá, antes de você chegar?
- Ah tá, mas eu não sei onde está. Deixa pra lá, a
gente vai junto.
Erick ainda estava um pouco desconfiado; mas Clara
insistiu:
- Não, amor, deve estar junto com esses documentos e
sua carteira – disse ela, apontando para a mesinha – Deixa eu procurar.
Ela encontrou a chave do apartamento e disse:
- Aqui amor, tá vendo? Eu falei que eu ia achar! Você
precisa ficar num lugar limpo. Eu vou lá arrumar tudo e mais tarde volto para
te buscar, tudo bem?
Quando Clara saía do quarto de Erick, a médica
chamou-a:
- Oi, preciso te agradecer por falar do Leandro. Eu
consegui falar com ele por telefone, mas está viajando. Pelo menos disse que
vai cuidar de tudo e tentar falar com os pais da Malu também.
- Ah, tá. Que bom – respondeu Clara, desinteressada.
- E você, não vai visitar sua amiga hoje?
- Eu não! Quer dizer... hoje não vai dar tempo, tenho
que levar o Erick para casa. A mãe dele mora no interior e vou cuidar de tudo
enquanto ela não puder vir. Tchau, doutora!
Clara foi até o apartamento de Erick. Nas paredes e
no armário havia várias fotos dele e de Malu.
- Eu preciso esconder tudo o que é da Malu. Vou
espalhar fotos de nós dois pela casa e jogar o meu perfume. Ele não pode se
lembrar da Malu, pelo menos por enquanto. Ele tem que gostar de mim!
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