- Eu preciso esconder tudo o que é da Malu. Vou espalhar fotos de nós dois pela casa e jogar o meu perfume. Ele não pode se lembrar da Malu, pelo menos por enquanto. Ele tem que gostar de mim!
E assim, Clara buscou Erick no hospital e o levou
para seu apartamento.
- Enfim, em casa! Deixei tudo do jeitinho que você
gosta. Até fiz a sua lasanha favorita de berinjela.
- Oba! – ele riu
- Você se lembrou da lasanha?
-- Não, mas o cheiro tá muito bom!
Eles sentaram no sofá e Clara levou a lasanha para a
sala. Erick comentou:
- Humm, parece deliciosa! Eu to mesmo morrendo de
fome!
- Então vamos
jantar e depois você vê o resto da casa.
Eles comeram a lasanha. Logo depois, Erick se levantou
do sofá e foi até o armário da sala, onde viu várias fotos dele com Clara, não
muito recentes, mas ele nem percebeu.
- A gente gostava mesmo de tirar selfies, mas não tem
nenhuma foto da gente se beijando, por quê?
Clara sorriu, sem graça e respondeu:
- Ah, amor, não precisa ficar mostrando nossa
intimidade nas paredes da casa... mas se você quiser e gente tira uma agora que
tal?
- É, pode ser, então. Eu não ligo de mostrar meus
sentimentos para os outros através das fotos. Se somos namorados, por que não
mostrar?
Clara pegou seu celular, abraçou Erick e eles se
beijaram lentamente. Eles ficaram um bom tempo vendo TV, pois Erick ainda
estava cansado e precisava ficar mais tempo quieto.
Mais tarde, Erick achou que poderia estar incomodando
Clara, que já tinha tido o trabalho de levá-lo para o apartamento, depois de
organizá-lo todo, e disse:
- Clara, se você quiser pode ir. Eu acho que preciso
ficar sozinho um pouco.
- Ah, mas você não quer nem a minha companhia para
dormir? Você não resistia quando eu implorava para passar a noite aqui. Deixaa!
– insistiu ela.
- Desculpa, mas eu ainda não consigo me lembrar de
nada. Eu preciso dormir sozinho na minha casa, pelo menos hoje.
- Está bem, você é quem sabe! – sorriu Clara e
continuou – Eu te amo, Erick! Se precisar é só me ligar.
Ela lhe deu um beijo no rosto.
Clara lembrou-se de que não havia apagado o número da
Malu do celular de Erick, mas não se preocupou com isso, pois Malu estava em
coma, e mesmo que Erick quisesse ligar para ela, não teria como ela atender.
Erick deitou-se no sofá.
Minutos depois o interfone tocou. Era a mãe de Erick.
Ele deixou que ela subisse, pois mesmo sem se lembrar dela, sua voz era
realmente bem familiar para ele.
- Filho, como você está?
Erick não se
lembrou dela, mas sentiu algo muito bom ao vê-la. Ela o abraçou.
- Eu soube do acidente e vim cuidar de você. Eu
estive no hospital e disseram que você teve alta. Pensei que sua namorada
estivesse aqui cuidando de você.
- Bem... ela até quis ficar, mas eu preferi ficar
sozinho. Eu to muito confuso ainda. E que bom que você veio, aliás onde você
mora? Não me lembro de nada e talvez você possa me ajudar a lembrar de muita
coisa.
A mãe lhe contou toda a sua história, desde quando
eles moravam no casarão, até ela se mudar para o interior. De lá pra cá, ela
não havia acompanhado a vida do filho de perto, então não podia ajudar muito.
Erick conseguiu se lembrar de algumas coisas de sua infância e de seu pai, que
não era muito legal com ele, mas não lembrou-se de Malu, que fizera parte de sua
vida naquele casarão.
- Mãe, você conhece uma tal de Malu?
- Não, filho. Não conheço. Deve ser uma de suas
amigas da época em que eu fui morar no interior. Bem, eu estava vindo pra cá
mesmo; dias antes do acidente você me ligou pedindo que eu viesse conhecer sua
namorada. Mas você não me contou detalhes. Então o Leandro me ligou contando
sobre o acidente... eu só estava esperando você acordar pra vir cuidar de você.
Até me esqueci de perguntar pra ele sobre sua namorada, se ela ia cuidar de
você. Mas por que você está com o nome Malu na cabeça?
- Não sei, mãe – Erick estava muito pensativo, mas
ficara com dor de cabeça com tanta informação – Você vai ficar aqui por muito
tempo?
- Não sei ainda, filho. Como eu disse, temos negócios
no interior e seu pai ficou lá sozinho, cuidando de tudo. Um dia, se você
quiser, pode ir pra conhecer. Quando era mais novo eu vivia te convidando e
pedindo que levasse seus amigos, mas você nunca foi, porque você e seu pai não
se dão muito bem, entende? Eu vou ficar aqui por alguns dias, até você se
recuperar um pouco mais.
- Vai ser muito bom você ficar esse tempo comigo. Eu
to tão perdido.
- E essa tal Malu? Você não se lembra de nada mesmo?
Será que não é sua namorada?
- Ah, bem... O Leandro me disse que sim. Mas a Clara
me garantiu que ela que é a minha namorada. E se a Malu fosse mesmo minha
namorada, eu teria me lembrado e teria também várias lembranças de nós dois...
Mas aqui em casa só encontrei lembranças minhas com a Clara.
- Entendi, filho. Você nunca mencionou o nome de seus
amigos por telefone.
- Acho que vou ao hospital amanhã. A Malu estava
comigo no carro, no momento do acidente e agora ela está em coma. O Leandro
me disse que ela está internada no mesmo hospital e eu preciso ir vê-la.
- Que estranho... por que será que ela estava no
carro com você? E que carro era esse? Você ainda não tinha carro, porque havia
acabado de tirar carteira.
- É, não sei, preciso que a Malu saia do coma e que o
Leandro volte logo da viagem, assim eles me explicam melhor tudo.
- Filho, você não sabe como é ruim não poder te
ajudar a se lembrar de coisas tão importantes.
- Não se preocupe, mãe, a minha memória tem se
refrescado a cada dia. E eu só sei que me sinto muito bem quando estou com a
Clara. E o Leandro, assim que voltar da viagem que está fazendo a trabalho, me
ajuda a lembrar de mais alguma coisa.
- A sua avó, que infelizmente já faleceu, sabia de
toda a sua vida. Seu avô não anda muito bem da cabeça, então não pode ajudar
também.
No dia seguinte, Erick foi ao hospital.
- Oi doutora, vim visitar a Malu.
- Ah, sim, sua amiga está na mesma. Permanece
desacordada. Mas pode vir comigo.
Erick entrou no quarto de Malu e sentou-se na
cadeira. Ele olhou para ela e pensou:
- Então essa é a Malu. É bem bonita! Mas será que ela
realmente queria atrapalhar o meu namoro com a Clara? Acho que é só uma amiga
mais próxima e isso deve ter incomodado a Clara, que parece ser bem ciumenta.
Que chato que o Leandro não tá aqui pra me ajudar.
Ele disse à Malu:
- Olha, eu só espero que você acorde logo, preciso
saber quem é você. Talvez você saiba me dizer se a Clara é mesmo a minha
namorada.
Depois abaixou a cabeça e concluiu:
- Como eu queria que você respondesse. Será que pode
me ouvir?
Enquanto Erick estava fora de casa, Clara entrou em
seu apartamento, pois havia feito uma cópia das chaves; se caso Erick
perguntasse, ela afirmaria que ele havia dado às chaves a ela antes do acidente para que o visitasse sempre que quisesse.
- Oi amor, como v...
A mãe dele apareceu na sala.
- Ah, desculpe, acho que entrei no apartamento
errado. Mas... é aqui que o Erick mora mesmo. Mas quem é você?
- Ah, sim, eu sou a mãe dele. Ele me chamou aqui dias
antes do acidente para conhecer a namorada, deve ser você, né?
Clara sorriu. Estava começando a gostar daquilo.
- Aham, sou eu sim! Muito prazer, Clara!
Elas sentaram no sofá para conversar melhor e a mãe
de Erick quis saber mais sobre o relacionamento dos dois.
- Então você tem cuidado do meu filho esses dias...
- Claro, como sempre. O Erick é um menino ainda e eu
vivo tomando conta dele, ainda mais depois que cismou de beber... E todo dia eu
venho vê-lo para ajudá-lo a se lembrar de algumas coisas. Ele se lembrou da
senhora?
- Parece que sim, ele está bem à vontade do meu lado
e confiou em mim. Contei
a ele toda a história de sua infância no casarão, você chegou a conhecer?
- Claro, eu sempre visitava os avós dele lá. Mas cadê o
Erick?
- Foi no hospital ver a tal Malu.
- Como assim foi ver a Malu?
- O que foi?
Clara disfarçou, rindo sem graça.
- É que... Não é bom o Erick ficar saindo sozinho por
aí, ele não se lembra de nada.
- É só isso? Eu hein! Mas ele é bem grandinho para se
virar. Não se preocupe.
- A senhora tem razão. Eu vou esperar por ele aqui,
posso?
- Pode sim, vamos aproveitar para falar sobre vocês e
seus amigos.
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