Malu havia se mudado para uma casa maior, com piscina
e quarto de hóspedes. O bairro era bem tranquilo e arborizado, lembrando os
bairros mais nobres dos Estados Unidos. A avó de Malu havia falecido, deixando
uma boa herança para a família. Era seu primeiro dia na casa nova e Erick, seu vizinho
fora lhe dar as boas vindas. Malu atendeu a porta:
- Oi, quem é você?
- Sou Erick e moro na casa da frente. Aquela verde
ali! – respondeu o menino, apontando para o outro lado da rua.
Sua casa era uma das maiores e ele morava ali desde
que nascera. Erick era loiro, de olhos azuis e, assim como Malu, tinha doze
anos.
Malu era morena de olhos verdes e cabelos castanhos.
- Ah, que legal, eu sou a Malu. Muito prazer em conhecê-lo. Quer
entrar?
- Bem, minha avó me pediu que eu trouxesse esses bolinhos
de chuva. Seja bem vinda à sua nova casa, Malu!
Malu, enquanto pegava a bandeja das mãos de Erick,
olhava encantada para o menino. A mãe de Malu foi até a porta cumprimentá-lo:
- Olá, mocinho. Como vai?
- Oi, como vai a senhora? Sou Erick, vim dar as boas
vindas. Quando vi que minha nova vizinha era tão encantadora, não resisti e
quis conhecê-la. Mas eu preciso ir, senhora.
- Mas já? Vamos entrar!
Erick estava sem graça e olhou para Malu, dizendo:
- Eu tenho que ir. A gente se vê na escola amanhã.
Deve ser a mesma escola que eu estudo, é a única do bairro.
- Ah, deve ser mesmo! Tchau, Erick, obrigada pelos
bolinhos que sua avó fez!
Malu ficou admirada, nunca tinha visto um menino tão
educado naquela idade. Talvez porque ele fora criado num ambiente diferente
daquele em que Malu
vivera. A casa onde ela vivia anteriormente tinha apenas cinco cômodos, e Malu
vivia na rua, brincando descalça com as amigas. Erick mal saía de casa. Bem, as
coisas iriam mudar.
No dia seguinte, na escola, Malu ainda não havia conhecido
ninguém. Até que uma menina de sua turma foi falar com ela.
- Oi, seu nome é Malu mesmo, ou é algum apelido?
- É Malu. E o seu?
- Sou Clara. Sento lá na frente, porque detesto
bagunça no fundo da sala.
Clara tinha a pele clara, cabelos negros e olhos em
tom esverdeado. Era uma aluna exemplar. Malu se empolgou e começou a conversar
com a colega, antes que a professora chegasse.
- Você mora aqui perto da escola?
- Sim, e você? Veio de onde?
- Eu me mudei ontem pra cá. Minha casa é amarela e
tem uma piscina enorme!
- E qual casa não tem piscina por aqui?
Malu percebeu que Clara era bem mais esperta do que
ela imaginava, e se afastou. Clara disse:
- Peraí! A sua casa é em frente à casa do Erick? Mas
é sortuda, hein! Como eu queria morar lá. Sua casa estava à venda desde o ano
passado.
- E como você conhece o Erick?
Em instantes, Erick entrou na sala. Malu abriu um
sorriso enorme e foi falar com ele.
- Erick! Você é da minha sala?
Erick olha envergonhado para seus colegas e diz à
Malu:
- Oi, Malu, é o que parece, mas não precisa gritar.
Tá todo mundo rindo de você.
Malu olhou ao redor e viu que Clara também ria.
- Desculpe. Eu fiquei contente que vamos estudar
juntos, afinal você é a única pessoa que eu conheço nesta escola.
Erick sorriu. Clara percebeu que algo poderia estar
acontecendo entre os dois. Ela sentia muito ciúme dele. Clara gostava de Erick,
mas nunca tinha dito nada a ninguém. Ele nem podia imaginar. Erick olhava diferente para Malu,
mas Malu não havia percebido. Então, no recreio, Clara foi puxar conversa com
Malu.
- E aí, Malu! Tá gostando da nova escola?
- To sim. Você estuda aqui há muito tempo?
- Desde o primeiro ano. E o Erick, como vocês se
conheceram?
- Ah, ele foi à minha casa ontem para dar as boas
vindas e levou uns bolinhos deliciosos que a vó dele fez.
- Hum... Que legal. Depois você me convida pra nadar
na sua casa?
- Ué, mas você não disse que também tem piscina?
- Sim, mas você disse que a sua é enorme... A gente
aproveita e faz amizade.
- Você não tem amiga? – perguntou Malu, espantada.
Clara não se dava bem com as outras meninas, porque
tinha ciúme de quase todas. Ela crescera com o avô; seus pais haviam falecido
quando ela ainda era bebê. O avô de Clara a mimava o tempo todo; comprava tudo
o que ela queria, mas não tinha mais energia para brincar nem dar muita atenção
para a menina. Ela era sozinha e talvez fazer amizade com Malu poderia ajudá-la
a se tornar uma pessoa melhor.
Erick vinha em direção as duas com uma maçã na mão:
- Oi, Malu, quer uma maçã?
- Ah, quero sim, obrigada. Quer se juntar a nós?
Senta aqui!
Clara olhou para Erick e sorriu, dizendo:
- É, senta aqui!
Erick sentou-se ao lado de Malu e perguntou:
- Como está sendo seu primeiro dia de aula aqui?
- Bem legal. Já tenho dois amigos, você e a Clara.
Malu pegou na mão dos dois. Clara soltou a mão da
menina e ficou olhando para as mãos de Erick e Malu, bem juntinhas.
Erick percebeu que Clara olhava e segurou mais firme.
Clara puxou Malu, dizendo:
- Vamos ao banheiro!
- Mas... o Erick...
- Anda logo, Malu!
Erick não entendeu a reação de Clara. Por que será
que ela não suportou ver os dois de mãos dadas?
No banheiro, Malu perguntara à sua nova amiga por que
ela havia feito aquilo. Mas Clara não podia contar a ninguém que morria de
ciúmes do Erick, principalmente pra Malu, que estava cada vez mais perto dele.
Ela teria que bolar um jeito de conquistar Erick, sem ninguém desconfiar.
Talvez essa amizade com a “queridinha” do menino fosse a maneira ideal de se
aproximar dele.
No final da aula, Clara foi correndo falar com Malu:
- E então, quando vou conhecer sua casa?
- Preciso falar com os meus pais primeiro.
- Aposto que o Erick já conhece.
- Não, minha mãe o convidou pra entrar, mas ele não
quis. Depois eu marco pra vocês dois irem nadar lá, tá?
- Ok, queridinha. Beijinhos, viu?
Clara deu às costas à nova amiga. Erick chegou por
trás de Malu e lhe cobriu os olhos.
- Adivinha quem é?
- É o Erick, claro!
Malu virou-se rapidamente para trás e Erick sorriu
para ela. Aquele instante parecia único, e tudo o que estava ao redor dos dois
desapareceu. Malu não parava de olhar para Erick, quando ele interrompeu:
- Vamos para casa? A propósito, minha avó está convidando você e sua família para almoçar lá em casa no próximo sábado.
- Sério? Ah, vamos sim! Quer dizer, se minha mãe
concordar...
Durante a tarde, Malu terminou sua lição de casa e
foi tomar um ar em volta da piscina. Ela estava mesmo gostando de Erick. Mas
tão rápido assim? Pelo menos ela não parava de pensar no sorriso daquele
garoto. Mal sabia Malu que Clara também gostava dele.
E no sábado seguinte, como se previa, a família da
Malu foi almoçar na casa de Erick. Todos se divertiram bastante, principalmente
Erick e Malu, que quase não saíam da piscina. Eles aproveitaram para conversar
e contar sobre suas vidas.
- Eu gosto de desenhar. Sempre que tenho um tempinho
eu desenho alguma coisa. Quer ver alguns dos meus desenhos?
Erick e Malu foram para a biblioteca da casa, onde Erick
guardava seus desenhos. Malu ficara encantada com todos aqueles desenhos.
Pareciam profissionais.
- Você faz curso de desenho?
- Não. Eu aprendi sozinho. Fui tentando copiar alguns
desenhos e acabei gostando. Tive uma ideia! Você quer ir comigo na rua ver uma
coisa?
- Mas e os nossos pais? Vão deixar?
- É rapidinho, eles nem precisam ficar sabendo.
Erick puxou Malu pelo braço e saíram correndo até a
rua. Eles entraram no lote vazio, que ficava ao lado da casa do menino. Quando
Malu olhou para cima, viu uma árvore imensa, com um tronco reto e uns galhos
retorcidos. As folhas eram de um tom de verde incomum.
- E então? Gostou? Essa é minha árvore favorita. No
outono fica ainda mais bonita. Senta aí.
Malu sorriu. Os dois passaram vários minutos sentados
embaixo da árvore, até que a avó de Erick começou o chamou. Ele novamente
puxou Malu e os dois entraram correndo pela porta dos fundos.
- Oi, vó, o que aconteceu?
- Onde vocês estavam? Tá na hora do lanche. Os pais
da Malu têm compromisso mais tarde e precisam se despedir.
- Ah... já? – disse Malu – Eu estava gostando tanto
de ficar aqui.
- É, vó! A Malu pode ficar mais? Os pais dela podem
ir.
Eles insistiram tanto que os pais de Malu deixaram a
menina passar o resto da tarde com seu amigo. Erick presenteou Malu com um
desenho da árvore.
- Olha, é pra você. Essa pode ser a nossa árvore. E
sempre que você quiser sentar em algum lugar pra refletir, ou pra ouvir os
pássaros, é só vir aqui.
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