Eles se beijaram, abraçaram fortemente e Malu abriu o portão. Erick assoviou e Malu olhou para ele. Ele fez um coração com as mãos e Malu retribuiu com outro coração. O menino não queria ir embora, mas acabou indo, pois o pai de Malu apareceu na janela e a menina entrou em casa.
Este último ano passara muito rápido. O namoro de
Malu e Erick ia muito bem. Leandro se tornara o melhor amigo de Erick e sempre
que ele precisava de ajuda em alguma coisa, era Leandro que estava lá para
estender suas mãos.
Clara continuava arrogante, mas seus três amigos
aprenderam a conviver com isso. Ela fazia questão de ficar ao lado de Erick nos
passeios e encontros da turma, e prestava atenção em tudo o que ele e Malu
faziam. É claro que ela morria de ciúmes dos dois, que viviam abraçados,
trocando carícias e beijos apaixonados.
E nos finais de semana os quatro sempre inventavam um
programa para fazer. Eles desconheciam a palavra “tédio”. Ir ao shopping fazer
compras; ver um filme no cinema; nadar na piscina de Erick e na de Malu,
ir à exposições de arte, já que Erick amava desenhos e pinturas; sair para
correr ou andar de bicicleta nos parques do bairro.
Certo dia, os quatro faziam um piquenique em um
parque, quando surgiu o assunto “profissão”. Leandro comentou:
- Que vontade que eu tenho de trabalhar logo! Ainda
bem que já vamos fazer dezesseis anos e ano que vem terminamos os estudos na
escola. E, começando a facul, vamos estudar apenas o que gostamos, e não o que
somos obrigados, como acontece na escola – e riu.
- É verdade, eu decidi fazer jornalismo, acho que
combina comigo – disse Malu – E vocês, já sabem o que querem?
Clara ficou pensativa e respondeu:
- Não sei ainda, não tenho pressa para escolher isso.
É melhor demorar mais para pensar e escolher a coisa certa, do que começar logo
de cara uma profissão que você não tem certeza.
- Eu já sei o que quero desde os dez anos, quando meu
pai criticou a minha escolha – disse Erick.
- E você não esqueceu isso ainda?
- Não, só vou esquecer quando eu provar para o meu
pai que é isso que me faz feliz.
- Eu não acho que você precisa provar para o seu pai
isso. Uma hora ele percebe que você estava certo e acaba aceitando – disse Clara.
Leandro sorriu e concordou. Clara continuou:
- Então, você é uma das poucas pessoas que já
nasceram sabendo o que quer da vida. É uma das qualidades que admiro em você.
Malu interrompeu:
- É por isso que, quando você coloca uma ideia na
cabeça, ninguém tira. Ninguém consegue fazer você esquecer, porque você sabe que
pode e que vai conseguir.
Leandro sorriu de novo. Era apaixonado pelo sorriso
de Malu e sempre que ela abria a boca para falar, ele a admirava. Não conseguia desviar o olhar da menina, quando a via sorrindo. Erick perguntou:
- E você, Lê? Não pensou em nada ainda?
- Ah, pensei sim. Eu quero ter um escritório ou um
estúdio de Marketing Digital, cheio de computadores e instrumentos
tecnológicos. Essa era tecnológica me encanta. Não é possível que vocês ainda
não perceberam isso!
- Eu percebi! Você não larga seu tablet... –
respondeu Malu.
Todos riram.
- Pois é, meu sonho é participar daquelas
conferências internacionais sobre tecnologia, viajar para lugares bem mais
avançados que o nosso, tecnologicamente falando.
E assim, o papo deles sobre profissão durou o dia
inteiro.
Os quatro fariam aniversário em datas muito próximas;
então eles combinaram de ir ao cinema, no próximo fim de semana. Malu disse que
na lanchonete ao lado do cinema tinha uma torta deliciosa de chocolate, com
calda de morango, e que ela encomendaria uma daquela para comemorarem. Todos
gostaram de ideia, menos Clara que, como sempre, teve que reclamar de alguma
coisa:
- Nós vamos comemorar numa lanchonete? Ai, que coisa
mais pobre!
- E o que você sugere? – perguntou Malu.
- Sei lá, preferia uma festa, mas numa lanchonete com
várias pessoas estranhas olhando... é meio constrangedor, não acham? Só se,
pelo menos, não for pra soprar velas.
Todos concordaram em não ter velas e nem cantar
“Parabéns”. Pelo menos assim Clara não ficaria emburrada, como sempre fica
quando contraria a ideia dos amigos.
Sábado chegou. Erick levou Malu ao cinema de táxi.
Clara foi com seu motorista e Leandro, com seu pai. Enquanto estava no táxi,
Malu comentou:
- Não vejo a
hora de ter meu próprio carro. Assim a gente não precisa ficar pegando táxi e
nem ônibus. É mais liberdade para nós dois também.
- Eu vou pegar carona com você todos os dias – riu
Erick – Eu não vejo a hora de fazer
dezoito anos e poder ir na balada com você. Meus pais não estão nem aí pra mim,
vou poder fazer o que eu quiser!
- Não, peraí, amor! Também não exagera. A sua mãe se
preocupa com você.
- Tá, mas ela nunca vem me ver. Telefonar não é a
mesma coisa. Ela nem precisa saber que vou sair para me divertir.
- Talvez seja o seu pai que não deixa ela te visitar
sempre, afinal não foi você mesmo quem disse que ela é um chato conservador? –
riu Malu.
-Sim, e machista. Eu nunca trataria minha esposa como
ele trata a minha mãe. Acha que manda nela, e eu não posso fazer nada. Eu sei
que ela não é feliz assim!
Leandro foi o primeiro a chegar ao cinema. Foi logo
comprando os ingressos e a sua pipoca e entrando na fila. Clara chegou logo
depois e também comprou pipoca e mais algumas balinhas.
Malu e Erick correram para a fila. Leandro os chamou:
- Oi gente! Já to aqui na frente guardando lugar pra
vocês! Já comprei nossos ingressos. Se quiser pipoca tem que comprar, é só isso
que tá faltando pra vcs!
Eles assistiram ao filme e, depois, como combinaram,
foram para a lanchonete. A torta estava lá, esperando por eles, no mostruário.
Malu foi até o balcão buscá-la, já que era ela quem havia feito a encomenda.
Leandro, como sempre, não parou de olhar para ela e, disfarçadamente,
admirou-a, pensando:
"Maluzinha do meu coração, por que o Erick chegou
primeiro para te conquistar, hein?"
Erick se levantou e foi ajudar a namorada. Enquanto
ele levava a torta para a mesa, Malu pediu o refrigerante e os copos.
Na mesa, os quatro conversavam:
- Que torta mais que perfeita! É, sem dúvida, a mais
gostosa que eu já comi! – disse Erick.
- Mais gostosa que aquelas delícias que a sua avó
faz?
- Bem, talvez. Sei lá, tem algo a mais que eu não
consegui identificar.
Clara, metida a saber mais que todos, intrometeu:
- São amêndoas com um leve toque de licor de cacau.
- Como sabe?
- Lá em casa tem um licor desses e eu tomo um gole de
vez em quando. E
as amêndoas, bem... quem não come amêndoas nas panquecas, no café da manhã?
- Eu – os três responderam.
Malu riu e acrescentou:
- Eu nem como panquecas no café da manhã, muito menos
com amêndoas!
- Ah, gente, por favor, né! Não tem nada melhor do
que acordar e sentir o cheirinho do caramelo sobre as panquecas... Humm! Minha
empregada faz do jeito que eu gosto e...
- Tá bom, Clara, nós já entendemos. Agora vamos
aproveitar a nossa torta de aniversário, que está boa demais! – interrompeu
Erick.
Já estava anoitecendo. Erick e Malu se despediram de
Leandro e Clara e pegaram um táxi. Antes que eles fossem pra casa, Erick levou
Malu até a árvore.
- O que houve, amor?
- Estamos completando também um ano de namoro e eu
queria ficar um pouco sozinho com você. Tenho um desenho para te dar.
Erick pegou no bolso um desenho e entregou à
namorada. Era um coração, todo decorado e dentro dele estava escrito: “Você foi
a melhor coisa que aconteceu na minha vida!”
- Que lindo, Erick! Eu amei!
- Eu amo você, minha linda! Sempre vou amar, não
importa o que aconteça.
Eles se abraçaram. Erick levou Malu até o portão de
casa e a beijou. O pai de Malu ouviu o barulho do portão e olhou na janela. Ele
viu os dois abraçados.
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