Os dois ficaram sentados no meio-fio, abraçados por um bom tempo, até que a mãe de Malu chamou-os para um lanchinho.
Erick contou-lhe sobre a entrevista e ficou na casa
de Malu até o anoitecer.
Meses depois, a mãe de Malu recebeu um telefonema do
marido. Ela contou à filha sobre a conversa que tiveram:
- Seu pai disse que está muito bem no Canadá e está
convidando para passar uns dias com ele.
- Convidando quem? E bom pra ele que está muito bem
por lá.
- Ele convidou nós duas, mas eu disse que você não
vai poder ir por causa da escola.
- Não posso mesmo! Estou estudando para o vestibular,
tenho vários trabalhos para fazer e ainda tem o Erick, não vou deixá-lo aqui
sozinho de jeito nenhum.
- Entendi, filha. Você vai depois, nas férias, se
quiser. Seu pai vai entender.
- Vocês estão se falando normalmente?
- Bem, acho que sim. Seu pai só estava fazendo
suspense até resolver todas as coisas dele. Sabe como ele é, não conta nada pra
ninguém enquanto não dá certo.
- Mas precisava ter tratado a gente daquele jeito?
Mas fazer o que, né! Se vocês estão bem é o que importa...
Malu e Erick se encontraram na pracinha. Ele levou outro
desenho dela.
- Olha, esse é o mais perfeito de todos! E vou
guardar comigo lá em casa.
Quem sabe eu não levo para o trabalho pra me servir de
inspiração?
Malu sorriu. Ele continuou:
- Então, eu reservei uma mesa no melhor restaurante
da cidade. Hoje à noite quero te levar lá e brindar o sucesso do meu estágio e
o nosso amor também.
Malu achou aquilo muito romântico e encheu o namorado
de beijos.
- Ai amor, você caiu do céu, nem deve existir um
namorado mais fofo que você!
Aquela noite foi muito especial. Erick e Malu estavam
muito felizes. Eles pediram um prato leve e, de sobremesa, comeram um pudim de
amêndoas com calda de laranja. Estava tudo uma delícia; mas já era hora de
voltar pra casa.
Ao chegar em casa, Erick viu Clara sentada na sala,
esperando por ele.
- Oi Erick! Fiquei com vontade de te ver, afinal você
nem tem dado mais atenção pra mim depois que começou a trabalhar.
- E por que eu deveria te dar atenção?
- Vocês não disseram que eu deveria participar de
tudo? Então, to tentando ficar mais perto de vocês!
Erick se irritou:
- Tá, Clara, mas quando eu disse para participar das
coisas do grupo, é com o grupo todo, não só nós dois, entendeu?
Clara colocou a mão no peito de Erick e disse:
- Desculpe, lindinho, eu só estava passando por aqui
e quis te ver.
- Pois é, mas a Malu quase te viu. Você sabia que ela
ia entrar aqui?
- Ai Erick... você tá muito irritadinho. Eu já pedi
desculpas. Mas por que a Malu não entrou?
- Sei lá, ela achou que já era tarde e ia incomodar
os meus avós. Aliás, quem abriu a porta para você?
- Foi a sua avó. Ela é tão fofinha! – riu Clara – Mas
pediu licença e foi dormir. E onde você foi com a Malu que não chamou o resto
do grupo?
- Estávamos em um encontro romântico! Será que dá
para nos deixar namorar em paz?
Clara se afastou, respondendo:
- Okay, tudo bem... é melhor eu voltar pra casa.
- Sim, vou mandar o meu motorista te levar.
- Não precisa, o meu motorista está esperando lá
fora. Tchau, lindinho, boa noite.
Malu ainda não havia dormido. Passara quase meia hora
escutando música no MP3. Sua mãe foi até seu quarto lembrá-la da hora de
dormir.
No dia seguinte, Erick e Clara se olharam como dois
estranhos na escola. Clara percebeu que ele não queria papo com ela e acabou
ficando um clima estranho entre os dois.
Leandro viu que algo estava errado e esperou a hora
do recreio para falar com o amigo. Malu estava tão apaixonada que mal prestava
atenção nas aulas e nas pessoas ao seu redor. Sorte da Clara, porque se Malu
descobrisse sobre a noite anterior não teria perdão, era a sua última chance.
No intervalo, Leandro chamou Erick num canto para
entender o que havia acontecido.
- Então, cara, to te achando sério demais, vai, me
conta!
- É a Clara. Eu saí com a Malu ontem à noite, e
quando voltei adivinha só. A Clara estava me esperando na minha casa, minha avó
deixou ela entrar...
- Ih, caramba! E a Malu?
- Não sabe de nada. A Clara quase me agarrou, passou
a mão no meu peito e veio com uma conversa estranha que ficou com vontade de me
ver. Ah, cara, isso me irritou tanto, você nem imagina. Acho que ela já tá
abusando da amizade.
Leandro desviou o olhar e disse:
- Se você não amasse tanto a Malu, eu diria para você
ficar com a Clara pelo menos uma vez, só pra ela parar com isso.
- Não, de jeito nenhum. Nem se eu não amasse a Malu.
Esse negócio de ficar só uma vez com mulher apaixonada não dá certo. Você dá
uma chance e ela já acha que é namoro sério. Eu a Malu fomos feitos um para o
outro. E se a Clara não se colocar em seu devido lugar, vai sair do grupo de
novo!
Malu viu os dois conversando no cantinho e foi falar
com eles. Leandro viu a tempo e disfarçou, piscando para o amigo:
- Então, cara, a gente combina direitinho,.
Malu interrompeu:
- O que vocês estão planejando, hein?
- Ah, amor, é que... o Lê tava pensando em passar lá
em casa pra ver meus desenhos, né, cara?
- É, pois é, eu vou num fim de semana, beleza? –
respondeu Leandro e saiu andando.
Malu achou estranho e comentou:
- Vocês dois estão estranhos, era sobre isso mesmo
que vocês estavam falando?
- Claro, amor! Depois da aula vamos na pracinha? Só
nós dois... quero ficar agarradinho com você, te dar uns beijinhos...
Malu sorriu, sem graça:
- Ah, tudo bem... depois passamos lá em casa para
experimentar a torta de maçã com coco que minha mãe inventou.
Clara observava os dois de longe, com ciúmes. Ela não
conseguia se conformar com esse namoro e queria conquistar o Erick de qualquer
jeito. Nunca havia ficado com nenhum outro garoto, esperando que Erick a visse
com outros olhos. Ela não se cansava de inventar planos para estar sempre perto
dele, sem que Malu percebesse.
À tarde, Malu e Erick se encontraram na praça. Clara
estava atrás dos arbustos e ninguém a viu. Ela ficou ali, a tarde toda
admirando a beleza de Erick. Quando eles se levantaram para ir à casa de Malu,
Clara foi atrás deles, fingindo se encontrar em eles por acaso:
- Oi gente, que coincidência! Estão indo pra onde?
- Pra minha casa! – respondeu Malu.
- Posso ir? Estou sem nada pra fazer agora. Eu prometo
que não vou demorar. Deixa, Malu, vai! É rápido mesmo.
A mãe de Malu contou que viajaria para o Canadá no
fim de semana seguinte, para ver seu marido. Clara intrometeu:
- Ai, que máximo! Eu amo o Canadá, já fui pra lá três
vezes!
Erick e Malu sorriram. A mãe de Malu continuou:
- Mas eu volto em alguns dias. Juízo, filha!
- Pode deixar, mãe, eu tenho juízo de sobra –
respondeu Malu e olhou para Clara, que abaixou a cabeça.
Mais tarde, o motorista de Clara tocou o interfone e
pediu que a menina descesse:
- Clara, seu avô telefonou, mandou você voltar pra
casa antes do anoitecer. Desça logo!
Clara se despediu.
No fim de semana, a mãe de Malu viajou para o Canadá.
Malu e Erick foram se despedir no aeroporto. Malu aproveitou o resto daquela
tarde para estudar para a prova que teria na segunda-feira. Erick ficara em
casa, desenhando e, mais tarde, acabou estudando um pouco também.
O interfone tocou e Erick atendeu:
- Mas você de novo, Clara? Você já está me irritando!
- Posso entrar?
Erick abriu o portão. Clara entrou e lhe deu um
abraço. Ele se irritou:
- Olha, Clara, quantas vezes vou ter que dizer que eu
amo a Malu? E... eu estava estudando, você não vai estudar pra prova?
- Eu não, já sei a matéria toda de cor. Mas me diz
aqui, eu duvido que você não sente nada por mim, Erick. Fala sério, eu sou
muito mais bonita que a Malu!
- Lá vem você... eu sinto pena de você, fica se
humilhando para tentar me ganhar. Olha, Clara, por que você não para de me
encher e esquece essa ideia maluca de querer ficar comigo?
Clara abaixou a cabeça, pensativa. E lembrou-se do
que Leandro dissera sobre seu sentimento por Malu. Clara continuou:
- Imagine se fosse você que amasse alguém há muito
tempo e, de repente chega outra pessoa que você nem imagina e rouba seu grande
amor, aquele que você queria ter bem antes dessa pessoa chegar, mas estava só
esperando a hora certa para se declarar... Coloque-se no meu lugar! O que você
faria se alguém tentasse roubar a sua Maluzinha?
- Bem, eu não sei. Mas como assim? Tem alguém
tentando roubar a Malu de mim?
Clara sorriu ironicamente e respondeu:
- Não, Erick, imagina, foi só uma suposição. Mas vai
que tem alguém de olho nela, né...
- Você sabe de alguma coisa? Pode falar!
- Não, já disse que não sei de nada. E olha só, eu te
amo desde os meus onze anos, aí fizemos doze e a Malu apareceu na sua vida pra
estragar tudo! Você sabe como isso dói? Não, você não sabe, porque se soubesse
teria me escolhido!
Erick segurou Clara pelos braços e pediu:
- Para de fazer drama, daqui a pouco minha avó vem
ver o que está acontecendo.
- Erick, então me escuta, eu te amo há muito mais
tempo que ela, não vai nem me dar uma chance?
- Já chega, Clara, sai da minha casa, por favor!
- Não me trata assim! Eu tenho sentimentos... e você
faz questão de pisar neles!
Clara saiu correndo chorando; entrou no
carro e se foi.
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