- Que bom! Então, seu pai quer ter um dinheiro só pra ele também, – riu Erick e continuou – eu também vou tirar carteira assim que fizer dezoito anos, mas ainda não penso em comprar um carro. Vou tentar arrumar um bom emprego primeiro, de preferência numa editora de quadrinhos.
Eles riram. Malu se despediu, pois já era tarde.
Antes de desligar, Erick lembrou:
- Ah, Malu, espera! Eu fiz um desenho hoje na aula.
Amanhã eu te mostro.
- Ah, mostra agora, vai!
- Não, eu desenhei você e queria te mostrar
pessoalmente, e aproveitar para roubar um beijo seu. Assim pela tela não tem
graça.
Malu sorriu e lhe mandou um beijo. Erick mandou
outro, eles finalmente foram dormir.
No dia seguinte, depois da aula, Clara foi à
lanchonete e comprou uma torta de chocolate para Erick. Leandro também fora
almoçar na lanchonete e observou Clara, enquanto comia. Na saída, ele pegou
Clara pelo braço. Ela levou um susto e gritou:
- Ai, me solta! Ficou maluco, Leandro?
- Desculpa se te machuquei, eu só quero saber o que
você vai fazer com essa torta.
- Não é da sua conta! Não posso levar pra casa, não?
- Tem certeza de que vai levar para a sua casa? Este
caminho é da casa do Erick. Você pensa que eu sou burro? Eu sei muito bem que
você gosta dele, mas ele ama a Malu.
- Ô garoto, dá pra parar de me seguir, eu vou aonde
eu quiser, sai da minha frente! Deixa de ser “mala”. O que tem de mais eu levar
uma torta pro meu amigo? – respondeu Clara, empurrando Leandro.
- Eu não vou deixar você atrapalhar os dois.
- E você acha que eu não percebi que você é caidinho
pela Malu? Deixa o Erick saber disso!
- É chantagem agora?
- Não, mas se você me encher o saco eu aviso pro Erick
ficar de olho em você.
- Pelo menos eu não fico dando em cima da Malu, nem
tentando roubá-la do meu melhor amigo. Eu tenho uma imensa consideração por
ele, nunca o magoaria.
- Tá, tá, dá licença então e não se mete onde não é
chamado.
Leandro, irritado, respondeu:
- Eu sabia que você não era nossa amiga de verdade.
No fundo você só quer o Erick, mas ele nunca vai ser seu.
Clara deu-lhe as costas e disse baixinho, mas não tão
baixo a ponto de Leandro conseguir ouvir:
- Não vou descansar enquanto não conquistar o Erick.
Ele é o homem da minha vida.
Leandro foi embora decepcionado. Ele não queria que
Malu sofresse e, se Clara realmente queria o Erick, Malu sofreria muito por
perder o namorado para a sua melhor amiga; pelo menos Malu achava que Clara era
sua melhor amiga.
Clara levou a torta para Erick. Ele atendeu a porta,
recebeu o presente, mas não convidou a menina para entrar.
- Não posso entrar? –perguntou ela.
- Desculpe, Clara, mas eu tenho um encontro com a
Malu daqui a pouco. Mas obrigado pela torta!
Clara foi embora, pensando:
- Mas que imbecil. Eu levo a torta favorita pra ele e
o que ele faz? Simplesmente me ignora e vai se encontrar com a Malu...
À tardinha, Erick levou seu desenho para Malu, que o
esperava embaixo da árvore. Malu o beijou e disse:
- Que lindo! Seus desenhos estão cada vez melhores!
Malu percebeu que Erick estava com o pensamento meio
distante e perguntou o que havia acontecido.
- A Clara esteve lá em casa agora há pouco –
respondeu ele.
- E o que ela foi fazer lá?
- Levou a minha torta favorita de chocolate.
Malu estranhou:
- Mas assim, do nada? Nem tem nenhuma comemoração,
que eu saiba...
- Eu disse que tinha um encontro, mas ela foi embora
com raiva.
Malu não gostou nada daquilo; lá vinha outra vez
aquela preocupação em perder o Erick para a Clara. Será que ela nunca ia dar
sossego para os dois namorarem em paz? É claro que Erick sabia que ela gostava
dele, mas fingia de bobo e sempre inventava uma desculpa para não ficar sozinho
com ela. Mesmo assim, Malu se preocupava, pois Clara não cansava de ser
ignorada pelo menino.
No dia seguinte, depois da aula, Erick e Malu iam se
encontrar na árvore, quando ouviram um barulho muito alto. Eles correram para
ver o que estava acontecendo.
Viram um trator e vários homens. Um deles carregava
uma serra elétrica. Erick gritou:
- Ei, o que vocês estão fazendo? Parem com isso! – e
abriu os braços em frente ao trator.
- Sai daí, garoto! Estamos cortando a árvore, não tá
vendo?
- Mas por que estão fazendo isso? Desliga essa
porcaria!
Malu encostou-se na árvore. Um dos homens ordenou que
ela saísse. Erick gritou, apavorado:
- Cuidado, Malu! Sai daí!
- Eu não vou sair daqui. Ninguém vai cortar a nossa
árvore!
O homem que estava com a serra foi falar com ela:
- Olha aqui, mocinha, dá licença, por favor. Nós
temos outros compromissos, não podemos ficar o dia todo aqui esperando você
sair.
- Essa árvore é nossa! – Malu começou a chorar e
continuou – Por que estão fazendo isso?
- Essa árvore está no meio do lote. Vão construir um
prédio e ela tá atrapalhando. Agora dá licença, menina. Já disse que não to com
tempo para gracinhas. Se não cortarmos hoje, voltaremos amanhã e cortaremos de
qualquer jeito!
Erick abraçou Malu, que se afastou lentamente da
árvore, chorando. Eles não podiam fazer nada, pois o lote havia sido vendido a
uma construtora e realmente fariam um prédio. Por azar, a árvore estava bem no
meio do lote e não era possível construir ali, a não ser que construíssem ao
redor dela, sem precisar cortá-la; mas ninguém havia pensado nisso na hora de elaborar
o projeto.
Malu, arrasada comentou:
- Eu me sinto tão mal de não poder fazer nada. Uma
parte de mim se foi. É o dia mais triste da minha vida...
- É amor, você não sabe como isso dói em mim. Pelo menos eu
desenhei a nossa árvore e tiramos algumas fotos embaixo dela. Serão as nossas
únicas lembranças.
Eles se despediram. Em casa, Erick acabou comendo metade
de sua torta de chocolate, pois ficara triste pela árvore.
O dia seguinte amanheceu chuvoso. Mas mesmo assim
Erick foi ver Malu. Ele ainda estava muito chateado. Era sábado e a mãe de Malu
havia preparado uma lasanha de berinjela e convidado Erick para almoçar.
- Não sei se ficou gostosa, mas eu tentei pelo menos
– disse ela.
- Está uma delícia! Quase igual a que minha avó faz,
só precisar praticar um pouco mais – ele riu.
Ele havia levado a outra metade da torta de chocolate
para comerem de sobremesa.
A mãe de Malu comentou:
- Essa casa ficou tão vazia depois que o pai da Malu
foi embora. Ele faz falta, mas não vou ficar chorando pelos cantos; foi ele
quem quis assim. Você podia vir mais vezes, Erick.
- Venho sim, ainda mais agora que cortaram a nossa
árvore, a Malu te contou?
- Sim, coitadinha. Eles deviam ter feito um projeto
que encaixasse a árvore, sem ter de cortá-la.
E um silêncio tomou conta da mesa. Depois da
sobremesa, a mãe de Malu foi assistir TV, enquanto Erick e Malu conversavam no
quarto.
- A Clara tá meio distante, você não acha? Até na
escola ela mal fala com a gente...
- É verdade, ela não é mais a mesma. Já o Lê fala
comigo todos os dias, na escola, por SMS, no chat... – Erick riu.
- Acho que tá na hora de fazermos outro programa
entre amigos – disse Malu, encostando-se no ombro do namorado.
Erick aproveitou o clima e colocou a música “Be With
You” para tocar. Malu sorriu, dizendo:
- Você, como sempre, me surpreendendo!
Eles se beijaram e ficaram agarradinhos ouvindo a
música.
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