3 de dezembro de 2017

Uma Nova Vida - Capítulo 13


Aquele sábado fora bem agitado. O avô de Erick fora embora para o interior e Erick já havia procurado um corretor para vender seu casarão.

No domingo, Malu e Erick almoçaram juntos. Ela ainda não se conformava com a venda da casa.
- Amor, por que você não desiste de vender sua casa e só aluga? Vai que um dia você resolve voltar...
- Essa casa me traz lembranças boas sim, mas as ruins são as piores. Ainda mais morando sozinho... eu começo a pensar um monte de coisas, lembro dos meus avós, da minha infância com minha mãe e tudo de ruim que passamos... Meu pai gosta de me provocar! Tudo o que ele faz é para me chatear. Eu não quero continuar vivendo aqui para lembrar das maldades dele.
- E você não vai sentir a minha falta?
Erick abraçou Malu e disse que sentiria muito, mas a distância não seria problema para dois corações apaixonados. Eles dariam um jeito de se encontrarem nos fins de semana e, enquanto estivessem estudando, iam se ver na escola.
No dia seguinte, a mãe de Malu voltara de viagem. As duas tinham muitas novidades para contar uma à outra. E passaram a tarde toda colocando as fofocas em dia.
Erick voltara do estágio mais cedo para estudar um pouco. Clara estava numa rua perto da casa dele, e o viu indo para casa. Ela foi até lá e tocou o interfone:
- Oi Erick, está sozinho?
- Sim, por quê? O que quer?
- Calma, só vim te ver um pouco.
Erick abriu o portão e a recebeu na porta da sala. Clara continuou:
- Ainda bem que a Malu não está aqui, porque tudo é motivo para ela brigar comigo... Então, depois de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo na sua vida, queria saber como você está.
- Estou péssimo, não poderia estar pior! – gritou ele.
- Ai, quanto estresse! Mas você sabe que pode contar comigo, não me chama porque não quer. Eu estou livre todas as tardes.
- Sei disso, mas eu tenho a Malu. E para de ficar vindo aqui porque pega muito mal, não estamos em grupo...
- Ah, Erick, eu não vou mais tentar atrapalhar seu namoro com a Malu.
- E mudou de ideia de repente por quê?
Clara desviou o olhar, pensativa. Depois sorriu para Erick e respondeu:
- Eu pensei bem e vi que tudo o que eu fiz para te conquistar foi em vão e que... você nunca vai me amar como ama a Malu.
Clara estava sentindo muita raiva em ter que dizer aquilo, mas no fundo ela sabia que ia conseguir o que queria, assim que Erick se mudasse daquela casa. Ela jamais desistiria do amor da sua vida
Erick não era bobo e desconfiou de toda aquela conversa. Ele sabia que não podia confiar em Clara e a conhecia o suficiente para saber que ela não desistia fácil das coisas que queria. Mas se fosse verdade, seria ótimo para ele e Malu.
- Ainda bem que você pensou melhor sobre isso. Isso era o mínimo que você deveria fazer, em respeito à amizade entre você a Malu. Você sabe que eu apenas te suportava pela amizade de vocês... e você acabou confundindo as coisas.
- Eu não confundi nada! Já disse que te amava muito antes da Malu aparecer na sua vida. Mas se você preferiu ficar com ela, o que mais eu posso fazer? Só fique sabendo que meu amor por você não acabou, eu só vou tentar fingir que está tudo bem, para não causar mais confusão.
Leandro também não via a hora de Erick se mudar dali para ele poder visitar Malu. O que ele não teria coragem era de ficar dando em cima de Malu, assim como Clara fazia com Erick, pois, para ele, a amizade de Erick era mais importante.
O resto do ano passou muito rápido. Houve uma festinha de formatura do Ensino Médio e, logo depois Malu fizera vestibular e passara; ia estudar Jornalismo.
Erick completara dezoito anos e, de presente, seu chefe lhe contratou como profissional. Isso significava mais trabalho, maior salário, mais responsabilidade e transferência de emprego para a Sede da empresa. Erick trabalharia como ilustrador de uma grande revista da editora, porém o escritório era em um bairro bem distante de sua casa; ele não poderia recusar, já que estava realizando seu maior sonho.
Havia uma família interessada em comprar sua casa, mas o preço que pedira estava um pouco acima do que a família poderia pagar; como Erick precisava se mudar logo para começar no seu novo emprego o quanto antes, decidiu vender sua casa por um preço menor e comprar um apartamento próximo à Sede da editora.
Malu não gostou, mas se Erick estava feliz, era o que importava. Ela se dedicava às aulas de direção, enquanto as aulas da Faculdade não começavam e, por isso não ficava pensando muito na mudança de casa do namorado.
Ela estava disposta a comprar um carro para visitar o namorado todo fim de semana, já que Erick havia dispensado seu motorista e agora voltara a andar de táxi. Ele não tinha tempo para entrar na auto-escola; estava trabalhando muito e seu interesse por dirigir era mínimo. Como seu emprego era muito próximo ao seu novo apartamento, ele podia ir a pé.



No aniversário de Malu, Erick quis fazer uma surpresa e convidou Clara e Leandro para seu novo apartamento. Os três prepararam uma festinha. Era a primeira vez que os quatro bebiam cerveja. Erick adorou. Malu preferiu tomar o vinho que Leandro levara. Leandro não gostou muito de nenhuma bebida e preferiu ficar no refrigerante. Clara acompanhou Erick na cerveja e, mais tarde abriram um champagne.
Depois de tanta bebida, cantaram “Parabéns” e comeram torta de chocolate. Erick e Malu passaram o resto da noite abraçados, trocando beijos e carícias.
Clara deitou-se no sofá e acabou dormindo. Leandro chamou um táxi e a levou para casa.
Malu não queria ir embora, e não queria que aquela noite acabasse, porque quando voltasse para casa estaria longe de Erick. Não era mais como antigamente, que bastava atravessar a rua e acenar do portão. Isso era muito triste.
- Eu não queria ir embora, meu amor, mas minha mãe precisa de mim em casa, e eu não gosto de deixá-la sozinha nem preocupada.
Eles se despediram e Malu entrou no táxi. Ela gritou:
- Te amo e obrigada pela festa!
Erick, como de costume, fez um coração com as mãos. Começou a chover e ele acabou ficando ali, na chuva, encharcado, pensando em Malu. Só depois, quando a chuva parou que Erick entrou no prédio e pensou:
- Malu... que falta você me faz! Queria me casar com você...
Erick tinha bebido um pouco além da conta.
No dia seguinte, Erick dormiu até tarde. Ainda bem que era sábado e ele não trabalhava. Ele desejara que Malu tivesse dormido em seu apartamento e, quando acordasse receberia o café-da-manhã na cama, com muitos beijos apaixonados. Mas isso não acontecera.
Quando acordou, seu apartamento estava uma bagunça por causa da festa e ele não tinha nada para comer. Erick precisou sair para fazer compras.
Quando voltava das compras, Clara apareceu oferecendo ajuda com as sacolas. Ele não esperava vê-la e perguntou:
- Clara, você por aqui a essa hora?
Ela disfarçou:
- Ah, é que... eu estava fazendo caminhada. Você sabia que naquela avenida nova, ali embaixo, tem pista de Cooper e ciclismo? Então, eu ia lá agora.
- Ah, sei, mas pode deixar que eu consigo carregar as minhas sacolas sozinho. Sou forte o suficiente.
- Eu sei disso, fortão! Vai lá, então. Eu vou fazer minha caminhada matinal que eu ganho mais!
Erick reparou no look esportivo de Clara, e pensou:
- Nada mal! Pelo menos ela não estava mentindo, como das outras vezes que esbarrou comigo dizendo ser por acaso.
Malu foi à praça para pensar um pouco. Precisava descansar a cabeça, enquanto ouvia o canto dos pássaros. Sua mãe voltaria para o Canadá em algumas semanas para visitar seu pai. Ela aproveitou para estudar um pouco. Seu exame de direção seria em duas semanas e, assim que passasse, compraria um carro.
Enquanto Malu relaxava apreciando a natureza, Erick ligou para ela, morrendo de saudades.
- Oi meu amor, tá muito difícil ficar aqui sem você.
- Aqui também. Eu estou na nossa pracinha, lendo um pouco. Não vejo a hora de tirar carteira. Minha mãe saiu e eu fiquei sozinha em casa, aproveitei para esfriar a cabeça.
- Minha vida está tão chata... Passar o fim de semana sem você vai ser complicado.
- E por que vai passar longe de mim? É só você vir até aqui, ora!
- Ah, eu to meio cansado. Depois da festa ainda tive que limpar toda a sujeira, fazer umas comprinhas... vida sem empregados é bem difícil... Se pelo menos eu estivesse aí, era só atravessar a rua pra te ver.
- Sim, mas você sabia que seria complicado e mesmo assim aceitou por causa do trabalho. Não está satisfeito com isso?
- Com o trabalho, sim. Mas longe de você não dá, as horas não passam. Aquela frase que todo mundo diz, agora faz todo o sentido para mim.
- Que frase?
- Não se pode ter tudo o que quer. Agora que realizei um sonho de trabalhar na editora, estou sem você.
- Amor, para de bobagem, você não está sem mim. Olha, eu já disse que vou comprar um carro e poderei te visitar sempre.
Eles se despediram. Erick aproveitou o resto do dia para descansar.
À noite, Clara foi lhe fazer uma visita.
- Oi Erick, sou eu, Clara.
Erick abriu o portão e Clara subiu as escadas. Ao ver o estado em que ele estava, Clara fez o maior escândalo.
- Mas o que deu em você? Está tão acabado! Não, já para o banheiro! Vai tomar um banho que eu vou arrumar um pijama para você.
- Eu to cansado. Tenho trabalhado demais e a Malu não tá aqui pra me fazer companhia.
- Ai Erick, você bebeu, não acredito! Mas que bafo horrível! Vai logo tomar banho e escovar os dentes! Eca!
Clara colocou Erick para dormir, igualzinho a uma criança mimada e deixou um bilhete, antes de sair, que dizia: “Erick, deixei um chá pronto e umas torradas com geléia no pote marrom. E se cuida! Não quero passar o domingo preocupada com você.”


0 comments:

Postar um comentário