- Não... quer dizer, alguns, mas estão lá em casa bem
guardados, eu te mostro depois.
Clara mexeu no armário da sala e disse:
- Olha o que achei, amor.
- O que é isso?
- São fotos de quando você era pequeno.
- Que legal!
- Olha como você era bonitinho!
- Eu era?
Clara riu.
- Eu quis dizer que você é bonitinho desde essa
época.
Eles riram muito vendo as fotos. Mais tarde, Clara
precisou ir embora. Na hora de se despedir, ela o beijou e disse que o amava.
- Eu também te amo – respondeu ele.
Clara ficara muito feliz com aquilo. As coisas
estavam saindo como planejado. Erick estava gostando dela e era tudo o que ela
sempre quis. Antes que ela saísse pela porta, Erick a puxou pelo braço e lhe
roubou outro beijo. Ela saiu toda sorridente.
No dia seguinte, Erick foi ao hospital ver Malu. A
médica o chamou e disse:
- Oi Erick, tudo bem? Veio ver a Malu?
- Sim, ela tá melhor?
- Bem, os exames mostraram que ela possivelmente não
terá nenhuma sequela quando acordar. Isso não é ótimo?
- Claro que sim! – ele respondeu muito feliz, e entristeceu-se
logo depois – Pena que não sabemos quando isso vai acontecer.
- Oi Malu, eu ainda me sinto culpado pelo que houve
com você, eu só queria que você me perdoasse quando sair daqui. E por mais que
você queira atrapalhar o meu namoro com a Clara, eu não sinto raiva de você.
E durante um mês, Erick e Clara se divertiram juntos.
Foram ao parque, ao cinema, à lanchonete comer a torta de chocolate que Erick
tanto amava; aproveitaram bastante e também namoraram muito. Erick estava tão
apaixonado por Clara que não queria pensar em mais nada. Ele apenas desejava
que Malu um dia acordasse e o perdoasse pelo acidente.
A mãe de Erick viu que ele já se sentia bem melhor e
resolveu voltar para o interior.
- Seu pai precisa de mim lá no interior e você tem a
Clara aqui, né, filho!
Eles se despediram com um abraço.
Mais tarde, Erick recebeu uma visita inesperada. Malu
aproveitou que uma moradora saía e entrou no prédio. Ela tocou a campainha.
Quando Erick olhou no olho mágico, levou um grande susto. Malu o abraçou bem
forte.
- Erick! Que saudade!
- Ma-malu? Você acordou?
- Sim, meu amorzinho, se eu estou aqui, né! Não está
feliz em me ver? Posso entrar, já entrando?
Malu sentou-se no sofá, sem esperar Erick responder.
Erick não sabia o que dizer. É claro que ele estava feliz e precisava do perdão
de Malu, mas estava ainda surpreso.
- O que foi, Erick? Até parece que você não está
feliz em me ver. Olha, eu acordei, nasci de novo! A médica me disse que você ia
sempre no hospital me visitar, mas ela disse que você perdeu a memória... Então
você não se lembra de nós dois?
- Malu, eu to muito feliz por você ter acordado, mas
eu e a Clara estamos felizes juntos agora.
Malu não gostou do que acabara de ouvir.
- Você e a Clara? Ah, eu devia saber, mas eu sou sua
namorada. Você não pode fazer isso comigo! Tudo o que nós vivemos foi em vão?
- Eu esperei você acordar para me contar tudo, mas
agora eu to apaixonado pela Clara. Eu não sabia quando você ia acordar e... Eu
não podia deixar a minha vida daquele jeito. Ela me convenceu de que eu e ela
éramos namorados... E mesmo que não fôssemos, me apaixonei por ela.
- Ela é uma invejosa! Por causa dela você bebeu muito
naquela noite. Por favor, Erick, acredita em mim! – implorou Malu, quase
chorando.
- Desculpa, Malu, não queria te deixar assim, mas eu
não tenho nenhuma prova de que eu e você éramos namorados, já a Clara me
provou.
- Ela te enganou esse tempo todo! Não sei como ela
fez isso, mas você caiu direitinho! Ela se aproveitou da sua perda de
memória... E eu também estava naquela cama sem poder fazer nada! Que raiva!
- Eu sinto muito, de verdade, mas você me perdoa? Sei
que o acidente foi culpa minha. A Clara me disse que você me obrigou a dirigir
bêbado, mas eu achei essa história muito estranha.
- Nada a ver o que ela disse. Foi você que pegou a chave
da minha mão. Mas eu te perdoo por estragar meu carro, porque o seguro vai me
dar outro, e olha aqui, você não pode acreditar em nada que a Clara disser
sobre o acidente e vocês dois. É tudo mentira! Eu e você éramos melhores amigos
desde os doze anos e... namorados desde os quinze. Você sabe o que isso
significava para mim? Você foi meu primeiro amor... Você vivia dizendo que
nunca ia deixar de me amar, independente do que acontecesse.
- Tá, mas é diferente! Eu não me lembro de nada e
isso é como se isso nunca tivesse acontecido para mim, tenta entender meu lado!
- Erick, tudo bem, vou parar de falar sobre isso. E o
Leandro, não voltou da viagem?
- Como sabe que ele viajou?
- Ele contou pra todo mundo antes do acidente, estava
todo feliz por causa disso.
- Ah, entendi. Ele ainda não voltou, mas não deve
demorar muito. Mas peraí, você disse que eu bebi muito na balada por causa da
Clara, como assim?
Malu tentou se lembrar do que Erick contara na
balada.
- Bem, quando chegamos na balada você nos contou que
a Clara tinha vindo aqui naquela tarde e tentou te agarrar, dizendo que te
amava, roubou um beijo seu e você a expulsou daqui. Não gosto nem de pensar
nisso. Então você me ligou pedindo que eu te buscasse mais cedo e fomos pra
balada. Você estava com tanta raiva da Clara que acabou bebendo além da conta
para tentar esquecê-la. Eu te chamava pra dançar e você não estava nem aí.
Erick mal piscava, prestando atenção àqueles
detalhes. Malu continuou:
- A Clara sempre quis ser sua namorada. E quando
soube que você havia me pedido em namoro no meu aniversário de quinze anos, ela
ficou com raiva e disse que não ia desistir de você.
- Eu me lembro mais ou menos da Clara saindo chorando
daqui... Deve ter sido porque eu a expulsei.
- Pois é, ela disse que sempre te amou, e agora que
vocês estão juntos ela deve estar super satisfeita.
- Não me leve a mal, Malu, mas eu ainda não consigo
me lembrar de nós dois juntos, sabe... eu e você... Ah, deixa eu te mostrar uma
coisa.
Erick mostrou à Malu o desenho da árvore.
- Por acaso você já viu esse desenho?
- Sim, claro, amor, quer dizer... Erick. Eu tenho um
igualzinho lá em casa. Foi
debaixo dessa árvore que você me pediu em namoro. Era a nossa
árvore... Sempre que queríamos um tempo sozinhos, era pra lá que íamos.
- Ah, então a menina que eu vi era você. Tive uma
pequena lembrança de uma menina... era você. A Clara me enganou mesmo. Os olhos
esverdeados que eu vi eram seus. Ela me disse que eu a havia pedido em namoro
na pracinha, levou uma torta de chocolate no hospital e disse que era minha
preferida e até fez uma lasanha de berinjela!
- Sim, Erick, ela sabia de todos os seus gostos e
sempre nos acompanhava em todos os lugares que a gente ia, só para saber mais
sobre você. Às vezes até se escondia para prestar atenção em tudo. E achava que eu não
a via.
- Até a nossa música de namoro ela colocou pra eu
ouvir. E agora te vendo sorrir, posso ter certeza de que o sorriso que eu via
era seu. Mas o problema é que eu me apaixonei pela Clara, mesmo sendo enganado.
Ela conseguiu fazer com que eu gostasse dela.
- Sim, e na verdade você só a suportava antes porque
era minha amiga. E no dia da balada eu prometi pra mim mesma que não seria mais
amiga dela, depois do que ela havia feito.
Malu levantou-se do sofá, entristecida, e continuou:
- Olha, Erick eu só queria que você se lembrasse de
tudo. Assim a gente ficava junto de novo. Eu vou te mostrar depois os desenhos
que você me deu, as nossas fotos e nossas conversas no chat. Você não se lembra
dos seus dados para entrar na sua conta, né?
- Não faço a mínima ideia. Depois a Clara me ajuda a
criar outra conta, ou talvez eu encontre esses dados anotados em algum lugar,
ainda não tive tempo de ver isso.
- Tudo bem, eu tenho que ir. Qualquer coisa você
ainda deve ter meu número, é só me ligar.
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